Recentemente, analistas da XP divulgaram um relatório colocando o setor de Papel & Celulose como uma boa oportunidade de investimento neste momento, e apontando ainda a Suzano (SUZB3) como a favorita do setor, mas também com recomendação de compra para as ações da Klabin (KLBN11) e Irani (RANI3).
Neste artigo, vou explorar os argumentos em prol do investimento no setor, e apontar também qual a minha ação preferida no setor.
A tese para investir no setor de Papel & Celulose
Uma característica comum, e um tanto óbvia, de empresas produtoras de commodities é que a performance da empresa e, consequentemente, da ação, acompanham o ciclo de alta ou de baixa dos preços da commoditie que a empresa produz.
O ciclo de preços da commoditie depende, por sua vez, do crescimento econômico mundial, em especial da China, maior consumidor de produtos primários. A desaceleração do crescimento econômico chinês tem pressionado os preços de diversas commodities que, combinado com a maior produção e oferta destes produtos, criou um ambiente de negócios mais competitivo para essas empresas.
O setor de Papel & Celulose não escapou desta dinâmica, e por isso o desempenho destas ações têm sido afetado negativamente.
No entanto, a equipe de analistas da XP observou indícios de que os preços internacionais estão se estabilizando, e tendem a subir no médio/longo prazo por conta da menor disponibilidade de recursos para produção destes materiais. Dessa forma, entendem que as ações do setor já bateram no seu “fundo”, e agora tendem a se valorizar por conta dessas expectativas.
Vamos então analisar as ações da Klabin (KLBN11), Irani (RANI3) e Suzano (SUZB3), para apontar a minha “top pick” (favorita) do setor.
Análise Quantitativa
Começamos com uma análise de dados do preço das ações nos últimos 5 anos, apresentados na tabela abaixo:
Ação
Alocação
Ret. Anual
Var. 12M
Maior Queda
Beta
KLBN11
0,5%
16,78%
+1,23%
-26,38%
0.43
RANI3
99%
36,02%
-34,54%
-42,81%
0.72
SUZB3
0,5%
17,97%
+3,11%
-33,96%
0.47
O campo “Alocação” é um estudo realizado de acordo com as variações no preço de cada ação, mostrando qual alocação entre as 3 ações trouxe a melhor relação de risco e retorno para a carteira no período estudado (5 anos).
A concentração de quase 100% da carteira nas ações da Irani se dá por conta do alto retorno no período analisado, praticamente o dobro em relação às demais.
Porém, sabemos que retornos passados não são garantia de retornos futuros, e a maior valorização da Irani no período vem acompanhada de uma volatilidade muito maior, representadas pela maior queda e desempenho negativo nos últimos 12 meses. Esse comportamento de preços indica um risco muito maior em relação aos outros dois papeis, o que já inviabiliza, na minha visão, colocá-la como “top pick” do setor, mas vamos seguir com a análise.
Análise Fundamentalista
Agora, vamos analisar alguns indicadores operacionais, de retorno, e de valor das três ações, apresentados na tabela abaixo:
Ação
Margem Ebitda
Margem Líquida
ROE
Dividend Yield
EV/Ebitda
Dív. Líq/ Ebitda
KLBN11
29,87%
8,77%
17,03%
6,03%
8,94
4,24
RANI3
30,17%
9,71%
12,18%
7,47%
5,98
2,23
SUZB3
49,34%
0,56%
0,55%
2,05%
6,98
3,37
Pelas características do setor de commodities, os indicadores mais importantes para serem avaliados são: Margem Ebitda, e os múltiplos EV/Ebitda e Dívida Líquida/Ebitda. E mais importante do que o nível atual destes indicadores, é analisar a sua trajetória.
É neste ponto que a Suzano tem uma pequena vantagem em relação às demais, mostrando um movimento de recuperação de margens e alívio no seu endividamento, enquanto que os seus múltiplos seguem abaixo da média histórica, e abaixo de sua principal concorrente, a Klabin.
Análise Gráfica
KLBN11: Leve tendência de alta, com potencial de ganho de +15%, e potencial de perda de -25%.
RANI3: Forte tendência de alta no longo prazo, mas passando por forte desvalorização no curto prazo, podendo indicar uma reversão nessa tendência. Potencial de ganho de +60%, e potencial de perda de -45%.
SUZB3: Leve tendência de alta, com potencial de ganho de +30%, e potencial de perda de -35%.
Conclusão
Por mais que exista uma relação natural de dependência entre a performance de uma ação de commoditie e o ciclo de preços dessa commoditie, eu só invisto em empresas capazes de sustentar os seus resultados operacionais e o seu fluxo de caixa, e que não precise aumentar muito o seu endividamento durante o ciclo de baixa nos preços da commoditie que ela produz.
É o caso da Vale (VALE3) no minério de ferro, ou o da Prio (PRIO3) no setor petrolífero. No setor de Papel & Celulose, não vejo nenhuma das empresas com essa capacidade. E como é difícil prever como os preços das commodities vão se comportar, sobretudo num contexto de desaceleração da economia da China, não julgo inteligente investir numa destas ações e ficar na dependência do aumento dos preços das commodities se materializar.
Portanto, não compartilho da mesma recomendação dos analistas da XP de investir neste setor. Contudo, concordo que a Suzano (SUZB3) é a “top pick” do setor, embora com uma vantagem bastante estreita sobre as suas concorrentes.
SOBRE HENRIQUE DUQUE
Trader a Analista de Investimentos com Certificação CNPI-P n° 3257, habilitado a fazer recomendações usando todas as técnicas de análise de investimentos;
CEO e fundador da Carteira Perpétua, plataforma de carteiras recomendadas e conteúdo educativo sobre investimentos;
Formando em Economia pela FGV-EESP.
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Este artigo não contém nenhuma recomendação de investimento, tendo caráter meramente informativo. Retornos históricos não são garantia de retornos futuros; Os riscos envolvidos no investimento recomendado foram apresentados neste mesmo relatório, estando o(a) leitor(a) ciente deles; A responsabilidade técnica por todas as recomendações de investimento é atribuída à Henrique Duque Peters, profissional certificado pela APIMEC sob o certificado CNPI-P n°3257, estando devidamente autorizado a recomendar investimentos com base em todas as técnicas de análise; Todas as recomendações refletem a opinião do analista com base numa análise independente, não recebendo quaisquer vantagens pelas indicações, ou se expondo a uma situação de conflito de interesses; O profissional cumpre todas as regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em sua Resolução n°20, que dispõe sobre a atividade de analista de valores mobiliários. O analista não se responsabiliza por quaisquer perdas ocasionada por uma de suas recomendações de investimento.
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