Nesse texto iremos abordar as diferenças entre a gestão ativa e a gestão passiva.
Os fundos de investimentos de gestão ativa, aqueles que são geridos por gestores profissionais que utilizam técnicas sofisticadas para agregar valor para os acionistas, realmente são melhores em entregar retorno superior para os acionistas ?
Ou a escolha por fundos de gestão passiva que apenas replicam índices entregam mais retornos com mais tranquilidade para os investidores ?
Gestão ativa e gestão passiva
Na gestão ativa, os gestores de fundos de investimentos buscam superar um índice de referência (como o CDI no Brasil) através das análises de mercado por meio da compra e vendas
de ativos. Os gestores aplicam nos ativos com base em análises de empresas, pesquisas e previsões de econômicas. Portanto, tanto fatores de natureza micro (empresas) quanto de
natureza macro (economia) são analisados para alocar os recursos dos investidores. Os gestores de fundos de ações, multimercados e cambiais são remunerados de duas formas: cobrando
taxa de administração e taxa de performance que é calculada com base nos resultados do fundo.
Já na gestão passiva, os gestores de fundos não buscam superar um índice de referência e sim replicar o desempenho de um índice. Um ETF do índice Ibovespa investirá todas
as suas ações que compõe o índice Ibovespa na mesma proporção que elas estão representadas no índice Ibovespa. Existem ETFs de índices de mercado, setoriais, commodities,
internacionais, renda fixa etc. Alguns exemplos são os ETFs que seguem índices como o BOVA11 que replica o índice Ibovespa e o SPXI11 que busca seguir o desempenho da SP&500.
São alternativas viáveis e que oferecem diversificação para os investidores, o que ajuda a diminuir o risco e aumenta a consistência dos retornos no longo prazo.
Impacto das taxas na rentabilidade
A principal diferença entre os dois tipos de gestão é em relação a custos. Enquanto os fundos de investimento de gestão ativa precisam performar acima do índice de referência
para ganhar taxa de performance, essa taxa ocorre apenas nos fundos de gestão ativa. Em geral, os fundos de gestão ativa cobram por volta de 2% aa e mais 20% de taxa de performance
sobre o que exceder o benchmark, que é o ponto de referência para comparar o desempenho entre ativos financeiros, geralmente é uma porcentagem do CDI ou IPCA acrescentado de uma
porcentagem.
O impacto das taxas não deve ser subestimado, pois a longo prazo elas afetam significativamente o rendimento líquido. Embora algumas pessoas possam ver as taxas de performance como
um custo adicional, elas são importantes para incentivar os gestores de fundos a superar o Benchmark, alinhando assim os interesses dos investidores com os dos gestores.
Comparação do desempenho
Os fundos de gestão ativa, pelo fato de serem administrados por um gestor profissional que emprega trabalho intelectual na seleção dos ativos, sugere que esses fundos não teriam
dificuldade em bater os índices de mercado, que não usam trabalho intelectual. Mas existe evidência empírica que aponta o oposto: os fundos de investimento não conseguem bater o
mercado no longo prazo. A SPIVA, é um estudo divulgado pela SP&500 Dow Jones Indices, ele mostra que no Brasil ao aumentar o período de análise, porcentualmente menos fundos de
investimentos conseguem bater o mercado. A imagem a seguir com os dados da SPIVA referentes ao mercado brasileiro de 2023, mostra que 76,56% dos fundos brasileiros não superaram o
benchmark nos últimos 3 anos e o número sobe pra 92,31% considerando os últimos 10 anos.
Esses dados estão em sintonia com o que ocorre no exterior, onde os fundos de investimento também apresentam dificuldade de bater o benchmark no longo prazo. Os dados
ficam piores para os gestores porque as análises tem o viés de sobrevivência, ou seja, os fundos que morreram no meio do caminho não são contabilizados.
As dificuldades dos gestores de fundos em bater o mercado no longo prazo são frutos do aprimoramento da eficiência dos mercados financeiros, o que aumenta a liquidez e a
robustez dos mercados e a informação é refletida mais rapidamente nos preços dos ativos. Isso diminui as margens para encontrar ativos subvalorizados.
A grande aposta de Warren Buffet
Um exemplo marcante que ilustra a questão das taxas e do desempenho na indústria de fundos é o desafio lançado pelo renomado investidor Warren Buffett em 2008. Ele criticou as taxas
excessivas cobradas pelos fundos de investimento e questionou se seu desempenho justificava tais custos. Buffett propôs um desafio intrigante: ele apostou que um fundo de índice do
S&P 500 superaria o desempenho de uma carteira cuidadosamente selecionada de fundos de hedge ao longo de 10 anos.
A empresa de investimento Protégé Partners LLC aceitou o desafio, e
as duas partes concordaram com uma aposta de um milhão de dólares. No entanto, antes mesmo do término previsto da competição, o cofundador da Protégé reconheceu a derrota.
Esse evento
destacou não apenas a importância das taxas na rentabilidade dos fundos, mas também ressaltou o potencial das estratégias de investimento passivo, como os fundos de índice, em superar
a gestão ativa em determinadas circunstâncias.
Conclusão
Os gestores de fundos enfrentam desafios significativos ao tentar superar o mercado no longo prazo, devido à eficiência dos mercados, à competição intensa e aos custos
associados à gestão ativa. Apesar dos esforços e análises dos gestores, a maioria dos fundos não consegue consistentemente superar o benchmark. Isso tem levado ao crescimento dos
fundos de gestão passiva como os ETFs, que apenas replicam índices de mercado com custos mais baixos. Os investidores têm cada vez mais adotando essa abordagem para maximizar
retornos e reduzir custos.