Por que eu acredito que a bolsa americana está “cara” e vai sofrer uma correção?


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Após uma valorização no S&P500 de +24% nos últimos 12 meses (jul/23 - jul/24), o mercado tem discutido se ainda há espaço para continuidade deste movimento de alta. Eu faço parte do grupo de analistas que vê esta alta com algumas ressalvas, e neste artigo vou explicar porque estou orientando investidores e investidoras a aguardarem uma correção (queda) no índice S&P500 antes de investir na bolsa americana.

Inflação resiliente


O CPI americano, atualmente em 3,25% no acumulado de 12 meses, aparenta estar sob controle se comparamos com o pico de 9% no período pós-pandemia. Porém, analisando a composição da inflação dos EUA, vemos que os itens que mais puxaram a alta e, posteriormente, o recuo do índice, são bens não-essenciais como passagens aéreas, diárias de hotel, veículos novos e usados. O preço de bens essenciais como aluguel (+5,3%), hipoteca (+4,6%), alimentação (+4%) e energia elétrica (+4,6%) não está cedendo, elevando o custo de vida no país.

Por conta disso, o reajuste de salários e contratos de aluguel de acordo com a inflação, algo que é rotineiro aqui no Brasil, tornou-se frequente também nos EUA, que até então não adotava esta prática pois a inflação era muito baixa. Isso tem um efeito positivo de preservação da renda e poder de compra das pessoas no curto prazo, porém a longo prazo gera o que economistas chamam de “inflação inercial”, que é a persistência da inflação ao longo do tempo por conta desses reajustes.

Dessa forma, a minha leitura é que a inflação ainda vai custar muito a ceder e voltar para a meta de 2%, afetando a capacidade de consumo das pessoas, e limitando o espaço para queda dos juros.


Endividamento do governo e das famílias em níveis recordes


Mas se a inflação está pressionando o poder de compra das pessoas, por que o PIB americano segue crescendo puxado pelo consumo das famílias?

De fato, o consumo das famílias e os gastos do governo têm feito o PIB dos EUA subir, porém uma análise mais cuidadosa mostra que o endividamento, tanto das pessoas quanto do governo, está em níveis recordes e crescendo a uma taxa bastante acelerada. Ou seja, o PIB está sendo alimentado, de fato, por um endividamento maior.


Juros altos por mais tempo (e o mercado até agora errou todas as projeções)


No início deste ano de 2024, o mercado estava projetando 4 cortes na taxa de juros pelo Fed (Banco Central dos EUA), com o primeiro deles ocorrendo no mês de Maio. Hoje, a expectativa é de apenas 2 cortes, com o primeiro ocorrendo no mês de Setembro.

Isso demonstra que o mercado vem subestimando a resiliência da inflação, como expus acima, e portanto, sendo otimista em relação ao ciclo de cortes na taxa de juros. Mesmo que desta vez acerte a projeção de 2 cortes ainda em 2024, certamente a “precificação” em relação aos juros de médio prazo também está otimista.

O efeito da combinação de juros altos por mais tempo, com endividamento em franca ascensão, não pode ser desprezado. É por isso que VEJO TANTA FRAGILIDADE NA TESE DO “POUSO SUAVE”, que projeta uma inflação retornando à meta de 2% a.a., sem comprometer o crescimento econômico e o mercado de trabalho, possibilitando a redução sistemática da taxa de juros.

A inflação de bens essenciais não está cedendo, o crescimento econômico e o mercado de trabalho já esboçam uma piora, e o mercado ainda se surpreenderá com o nível da taxa de juros no médio prazo.

Ainda assim, a bolsa americana segue renovando seus recordes históricos, quase que “ignorando” os ajustes nas previsões sobre a taxa de juros.


Bolha de inteligência artificial


Nos últimos 12 meses, se atribuirmos o mesmo peso a todas as ações do índice S&P500 (hoje só o grupo das chamadas “7 Magníficas” - Apple, Microsoft, Nvidia, Meta, Alphabet, Amazon e Tesla - representam 31% do índice), a performance nos últimos 12 meses teria sido de +11,9%, e não +24%. Ou seja, são basicamente essas 7 grandes empresas de tecnologia que estão impulsionando o índice.

Criou-se uma grande expectativa em torno dos benefícios que a Inteligência Artificial (IA) pode trazer para as empresas em termos de produtividade do trabalho e, consequentemente, resultados. Em que medida isso irá se materializar, é difícil dizer. O que me chama a atenção é como o mercado “comprou” essa narrativa sem fazer muitas perguntas. Apostar no desempenho de umas das 7 magníficas ainda é sensato, o problema são todas as outras ações que pegam carona nesta alta apenas por colocar frases como “otimização de processos usando IA” nos seus releases de resultados…

Este tipo de comportamento costuma ser um dos elementos que forma o que chamamos de “bolha especulativa”, mas sozinho não é suficiente para afirmar que estamos num desses momentos.

O indicador P/L do índice S&P 500 está, não só acima da média dos últimos 10 anos, mas acima das suas bandas de oscilação, num nível que, na última vez que esteve, foi seguido de uma forte queda na bolsa. Mas, empresas em crescimento acelerado justificam múltiplos mais altos.

Se bolhas especulativas fossem fáceis de se perceber, elas não se formariam.


Política e geopolítica


Por fim, para trazer ainda mais complexidade ao nosso cenário de risco, estamos presenciando uma possível transição na ordem mundial, que pode ameaçar a hegemonia do dólar.

Este ano teremos eleições presidenciais nos EUA em Outubro, com vitória mais provável do candidato que defende uma postura mais isolacionista do país, aumentando tarifas sobre produtos importados, e possivelmente o fim do apoio financeiro e militar a países aliados em conflito.


Como você deve investir


“Mas e seu eu esperar para comprar as ações, elas continuarem subindo e eu perder a oportunidade?”

Essa é a pergunta que muitas pessoas fazem em momentos assim. Esse sentimento é chamado de FOMO (fear of missing out - medo de ficar de fora), e também é um dos elementos que costumam estar presentes em uma “bolha”.

Após uma alta de +24% nos últimos 12 meses, seria um evento totalmente fora do padrão se o mercado continuar subindo, a ponto de não te dar uma outra oportunidade para comprar, pelo menos, neste mesmo preço atual.

A paciência é uma das principais virtudes nos investimentos. Mas como hoje em dia está cada vez mais difícil ser paciente, separei aqui 4 ações que não participaram desta alta e ainda estão “baratas”.

Bolsa americana nas máximas? Veja 4 ações que ainda estão “baratas”











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SOBRE HENRIQUE DUQUE

Trader a Analista de Investimentos com Certificação CNPI-P n° 3257, habilitado a fazer recomendações usando todas as técnicas de análise de investimentos;
CEO e fundador da Carteira Perpétua, plataforma de carteiras recomendadas e conteúdo educativo sobre investimentos;
Formando em Economia pela FGV-EESP.
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